Vamos tratar da importância a respeito dos suplementos alimentares, dos que recomendam nossos médicos e daqueles que não nos recomendam.
Qual é a razão pela qual, apesar de que ninguém vai se curar uma doença genética com suplementos, alguns podem colaborar com o equilíbrio químico da retina , enquanto que outros não são nem úteis nem necessários e podem gerar alterações adicionais?
As doenças da retina de origem genética: Retinose pigmentar, Stargardt, Usher, Best, Distrofia de cones, distrofia de cones e bastonetes, Amaurose de Leber, Retinoschise ligada ao X, Coroideremia, DMRI, etc. têm un padrão comum. Todas elas ocorrem porque há um gene danificado (mutado), que em lugar de produzir a proteína que necessitamos para fazer corretamente o ciclo visual e VER, fabricamm uma proteína defeituosa, produzem pouca quantidade de proteína, não sintetizam nenhuma proteína, ou produzem vários produtos que como não são os corretos, juntos danificam a retina. O problema não é que não haja aporte de aminoácidos (as proteínas são cadeias de aminoácidos). Os aminoácidos são parte de qualquer dieta alimentar equilibrada e a fonte são os alimentos. Qualquer pessoa corretamente alimentada, que tem uma dieta equilibrada, recebe dos alimentos TODO o necessário para que seu organismo fabrique as proteínas necessárias.
O “molde” sobre o qual se “copiam” as proteínas é o gene correspondente a essa proteína. Se o gene está danificado, a falha está no “molde”, não nos “ingredientes” (aminoácidos) que são usados para a fabricação. E mais, em alguns casos, como os “ingredientes” não são utilizados na quantidade normal, se acumulam, intoxicando as células que não podem eliminá-los e produzem danos adicionais. Um exemplo típico e que temos mencionado excessivamente é a vitamina A, que em Stargardt, distrofia de cones, distrofia de cones e bastonetes e algumas retinoses pigmentares causadas pelo gene ABCA4, se acumula. Como está em uma proporção mais alta do que o normal, reage quimicamente, o produto dessa reação não pode degradar-se, a célula morre e se perde visão.
Este conceito básico, claramente mostra por que nossa dieta deve ser muito equilibrada e não devemos suplementar o que não faz falta ou diretamente prejudica.
Con respeito aos lisados proteicos (NÃO DE CÉLULAS TRONCO). Sem entrar diretamente na discussão de sua aprovação ou não pela agência reguladora, que seria o único que garante que tenham sido adequadamente controlados. É absolutamente falso pensar que incorporar aminoácidos derivados de olho,cérebro ou nervos da vaca, pode ser útil para complementar uma dieta normal naquela que se consumam algumas porções de carne bovina por semana, ou uma dieta vegetariana de acordo com um nutricionista que determine que a ingesta proteica de origem vegetal seja suficiente e adequada. Obviamente, tudo isto sem pararnos para pensar se esses derivados de proteína foram corretamente extraídos de tecidos animais, se esses animais não portavam nenhuma patologia que poderia afetar-nos, se as condições de extração foram as corretas e, além disso, que embora ponhamos na retina todos os aminoácidos absorvidos e ainda por receber, nas enfermidades de retina, o molde de nossas proteínas é o que está mal e não a disponibilidade de aminoácidos.
Os suplementos que incluem proteínas e que foram corretamente testados, em geral, são apenas indicados para pessoas muito maiores, com déficits metabólicos por outros problemas de saúde, em pessoas que tenham sofrido grandes queimaduras (e somente durante o período de recuperação, onde a ingesta alimentar é muito baixa e não se consegue dar suporte aos mecanismos de reparação), e outros casos particulares. Não para doenças genéticas da retina.
A falta de aminoácidos não é parte dos problemas de retina, e nas enfermidades onde fazem falta aminoácidos, se suplementam alguns e não todos os que podem incluir-se em um lisado, onde não é feita seleção por tipo.
Por que outros suplementos, sim, são úteis?
Porque atuam sobre mecanismos de compensação da retina doente que se defende como pode porque não está produzindo a proteína correta.
Portanto NÃO ATUAM SOBRE A ÁREA DANIFICADA (SE ASSIM FOSSE JÁ TERÍAMOS A CURA!!!), mas atuam sobre outras áreas que estão funcionando e colaboram na compensação do defeito, ao menos até onde isto é possível.
A retina normalmente é um dos tecidos do corpo mais expostos à oxidação devido à realização do ciclo visual. Este processo implica que permanentemente se liberam radicais livres e que os fotorreceptores remodelam continuamente as membranas de seu segmento exterior que é onde se produz o ciclo visual. Quando as células não podem funcionar corretamente estes processos não se completam e a alta oxidação não é suficientemente compensada, o que provoca a morte por apoptose dessas células. A apoptose é um processo natural de morte celular programada que ocorre para liberar o tecido de células danificadas.
Nas enfermidades genéticas de retina, TODAS AS CÉLULAS ESTÃO DANIFICADAS PORQUE TODAS TÊM O MESMO GENE MUTADO, então tendem a entrar rapidamente no processo natural de apoptose devido ao desequilíbrio químico que ocorre por acúmulo de radicais livres. Os suplementos que se sugerem intervêm na sustentação desse equilíbrio, atrasando o ingresso dos fotorreceptores no processo de apoptose. Por isso é que atuam sobre áreas que compensam a alteração química da retina e não sobre a produção da proteína normal.
Antes de enumerar os suplementos que nossos médicos de referência nos receitam, quero esclarecer que todos são de origem natural e em teoria poderiam ser substituídos pelo alimento vegetal ou animal de onde são extraídos, são tomados como suplementos (em cápsulas) porque não há como comer diariamente 7 kg de mirtilo, nem 3 maços de brócolis, nem grandes quantidades de peixe, etc. porque isso implicaria em desequilibrar completamente a dieta em favor desses nutrientes e, também, seria insustentável comer essas quantidades por dia. É por isso que se sugere a dieta equilibrada e os suplementos que pontualmente atuam nos processos de equilíbrio químico da retina.
A eleição desses suplementos ocorreu após serem testados em ensaios clínicos. Corroborou-se a biosegurança de tomá-los a longo prazo porque não importa que um elemento seja natural, isto não quer dizer que tomado a longo prazo não possa ter efeitos secundários indesejáveis, portanto, antes de indicar qualquer tipo de suplementos, a primeira consideração é que efeitos secundários pode trazer, se os traz por acúmulo, se o excesso se elimina, etc.
Para cada um dos suplementos que se sugerem, foi realizado essa análise e foram coletadas informações de metabolização dos mesmos em publicações científicas e foi solicitada a informação das concentrações SEGURAS para cada um deles às agências de medicamentos (EMA, FDA, etc.) Este apoio permite definir que doses são as adequadas para que a concentração seja suficiente para que o suplemento seja útil e que não se exceda para que não traga consequências negativas de nenhuma natureza.
1. Ácido Docohexanoico (DHA) e Ácido Eicosapentanoico (EPA) :
Nome comercial: Omega 3 ( óleos de peixes altamente purificados):
Trata-se de um ácido graxo de origem animal ( proveniente de pescados de mar) Não é equivalente ao omega 3 que pode provir de vegetais como a semente de chia e outros, já que os ácidos graxos de origem animal são os que atuam como componentes das membranas das células do cérebro e da retina.
Os de origem vegetal são úteis para baixar o colesterol e triglicérides, mas não participam do metabolismo da retina.
O seguinte parágrafo é bastante técnico, mas explica muito bem os efeitos do Omega 3 na retina.
Os ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa, fatores essenciais no processo visual, afetam fatores e processos implicados na patogênese da doença vascular e neural da retina. O DHA é o maior lipídio estrutural das membranas dos fotorreceptores, parece facilitar o acúmulo
de luteína na retina, e a quantidade insuficiente de DHA neste tecido se asocia com enfermidades caracterizadas por alterações na função retiniana. Tanto DHA como EPA poedem atuar como agentes protetores devido a seu efeito sobre a expressão genética e a diferenciação celular da retina. O EPA é capaz de diminuir a concentração da proteína VEGF (vascular endotelial growth factor), responsável pelo aumento anormal dos vasos sanguíneos e sua ruptura.
Foi encontrada uma relação inversa entre a ingesta de AGPI-CL Omega-3 e a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) avançada em seis estudos. Na prevalência da enfermidade,
a relação entre a ingesta de AGPI-CL Omega-3 mais alta e a mais baixa foi de 0,4 e 0,9 respectivamente.
Recentemente, foi publicado um estudo sobre o efeito da ingesta simultânea de luteína (12 mg/d) e DHA (800 mg/d) e placebo, durante 4 meses, em mulheres entre 60 e 80 anos, avaliando o efeito sobre a concentração de luteína e de DHA em soro e sobre a densidade do pigmento macular. Os resultados demonstraram que a suplementação com luteína aumenta a densidade do pigmento macular de forma excêntrica, enquanto que a suplementação com DHA provoca um aumento na área central. A combinação de DHA e de luteína também provoca um efeito combinado.
2. Luteína e Zeaxantina (carotenóides):
Nome comercial: Luteína (Lutein) e Zeaxantina(Zeaxhantin)
Tratam-se de pigmentos de cor amarela intensa, de origem vegetal. Como todo pigmento, reagem com a luz, e devido a sua cor, absorvem o comprimento de onda da luz UV e luz azul. Isto gera um importantíssimo filtro interno frente à mácula para os comprimentos de onda que mais danificam a retina.
Nas doenças genéticas da retina de tipo “pigmentares” (retinose pigmentar, Stargardt, Best, distrofias de cones, distrofias de cones e bastonetes, DMRI, etc) o acúmulo dos dímeros de vitamina A não degradados nos fotorreceptores e nas células pigmentares determina que a alta concentração dos mesmos termine sendo tóxica para essas células. Mas o principal problema são as reações químicas de ativação que se produzem nesses acúmulos quando estão expostas à luz. Este mecanismo complexo onde a luz azul ativa a área de destruição do fotorreceptor ao atuar sobre o produto acumulado, determinando finalmente a morte do fotorreceptor.
A Luteína e a zeaxantina são a barreira ou filtro interno para diminuir esse dano, e também capturam radicais livres diminuindo a oxidação excessiva dos tecidos da retina.
Nosso organismo não produz nem luteína, nem zeaxantina, devem incorporar-se através da dieta (um bebê recém-nacido tem muito pouca luteína frente à mácula (proveniente da mãe), por isso tem que proteger muito seus olhos do sol e logo começam a ter filtro suficiente interno quando iniciam a absorção através da dieta sólida, ovo, purê amarelo, etc.
As pessoas que têm enfermidades genéticas da retina possuem uma menor porcentagem de acúmulo de luteína e zeaxantina frente à mácula do que aquelas que não as têm. Por este motivo se suplementam diariamente, já que a única forma de inclusão destes pigmentos é a alimentar.
O mecanismo de filtragem completo da luz azul, imprescindível para os pacientes com estas doenças, se complementa com o uso de filtros externos ( óculos), que possuem a capacidade de absorver o comprimento de onda que danifica particularmente estas retinas.
3. Zinco ou cinc:
Nome comercial: Zinco quelato (zinc chelated)
O zinco é um oligoelemento que forma parte constituinte de muitíssimas proteínas, fundamental para o sistema inmunológico e é núcleo de mais de 200 enzimas, também atua diretamente sobre o DNA. Na retina em particular, forma parte dos núcleos centrais das enzimas antioxidantes que atuam capturando os radicaiss livres, produto da altíssima oxidação.
Em pessoas sem problemas de retina, a porcentagem de zinco é muito alta na região macular, e esta quantidade está reduzida em pessoas com doenças genéticas da retina, onde também age como antioxidante, intervindo nas reações químicas que estimulam a produção de rodopsina, que é o pigmento atuante nos bastonetes.
Devido ao fato de que as fontes vegetais de zinco estão empobrecidas em relação a este mineral, já que os monocultivos esgotam a existência deste mineral no solo, os grãos têm menos zinco do que dispunham há algumas décadas. A carne bovina também oferece menos zinco porque os animais pastam nos mesmos campos deficitários em zinco e a dieta, em geral, de nossa população é pobre em pescados e mariscos. Considera-se, de forma genérica, que nossa população é deficiente em zinco a tal ponto que nos últimos 6-7 anos, se tomou a determinação de suplementar minimamente com zinco as farinhas para suprir em parte o desequilíbrio populacional deste nutriente essencial, cuja falta também traz problemas na retina, e é grave para o organismo durante seu desenvolvimento, crescimento, sistema imunológico, etc.
Em particular, e devido à agressão extrema que ocorre nas retinas de pessoas com doenças genéticas retinianas, determinou-se em diferentes estudos populacionais que era necessário aumentar a ingesta de zinco acima dos 40mg diários e até 80mg diários em pacientes com patologias de retina. Considerando que o zinco quelato era a forma química de melhor digestão e absorção, selecionou-se este formato para este tipo de suplementação para pacientes com doenças de retina.
É importante esclarecer que o consumo de zinco dentro desses parâmetros é perfeitamente tolerado e que o excesso de zinco não se acumula, mas se elimina, portanto é seguro. Entretanto, em pessoas propensas a desenvolver anemias, é necessário considerar de maneira especial, já que poderia gerar um quadro de anemia um pouco maior, uma vez que o zinco compete com o ferro para a fixação da hemoglobina em glóbulos vermelhos. Isto se resolve agregando à fórmula de zinco 2 mg de cobre, ou alternando a ingesta de zinco um mês sim, un mês não, e tendo especial controle hematológico em pacientes susceptíveis.
4. Extrato de Mirtilo:
Nome comercial Boldo 375 mg
As antocianidinas provenientes do extrato concentrado de mirtilo podem contribuir para melhorar a microcirculação da retina. Tais extratos estabilizam os finos vasos sanguíneos dos olhos, favorecendo neles a obtenção de nutrientes e oxigênio (função muito reduzida em retinose pigmentar). Paralelamente, as antocianinas tem um efeito antioxidante. O dímero derivado da vitamina A., A2E, um pigmento autofluorescente que se acumula nas células epiteliais do pigmento da retina com a idade e em alguns transtornos da retina, produz uma reação de efeito detergente das membranas celulares e o dano induzido pela luz à célula. Os eventos fotodinâmicos iniciados pela sensibilização de A2E incluem a geração de oxigênio simples e a oxidação de A2E em duplos enlaces carbono-carbono, liberando radicais livres. Demonstrou-se que as antocianidinas derivadas do mirtilo, que são nove diferentes, atuam diretamente suprimindo a fotooxidação de A2E ao menos em parte pelo bloqueio do oxigênio simples (principalmente em patologias derivadas do ABCA4 danificado). As células que haviam tomado as antocianinas também mostraram uma resistência à permeabilidade da membrana que se produz como resultado da ação detergente como da A2E.
As práticas paleativas, porém seguras, são avaliadas paciente por paciente, a suplementação deve ser indicada pelo médico levando em conta as características do paciente.
Mas sem dúvidas não podemos tomar atitude sem nos preocuparmos, escolhendo qualquer opção “supostamente terapêutica”, porque uma vez em circulação no organismo, deixa de ser “mágica” e é necessário que se veja que reação química desencadeia.
Fonte: Stargardt APNES, Argentina
Tradução: Lucia Helena Florio