LENTES COLORIDAS E SEUS BENEFÍCIOS PARA PESSOAS COM STARGARDT

Pessoas com a doença de Stargardt queixam-se, frequentemente, de elevada sensibilidade à luz. A degeneração macular provoca, além da perda da acuidade visual, a redução da visão de cores e contrastes e o desconforto em ambientes muito iluminados. Felizmente, parece possível amenizar o incômodo e melhorar a capacidade visual com o uso de lentes coloridas que filtram determinadas frequências de ondas.

A luz visível é um conjunto de ondas eletromagnéticas que, ao penetrarem na retina, criam a sensação de visão. O olho humano é capaz de perceber ondas, cujos comprimentos variam entre 400mm (extremo violeta) e 700mm (extremo vermelho), acima dessa faixa estão os raios ultravioletas, e abaixo, os infravermelhos.

Imagem do Espectro Visual

As lentes coloridas podem ser de cores e tonalidades variadas e há uma cor mais indicada para cada situação. Essas lentes podem ser colocadas nas armações convencionais dos óculos e não existe uma marca ou modelo exato. O importante é que elas recebam a proteção contra os Raios Ultravioletas (o filtro Anti-UV) para não danificarem a retina. Por isso parece interessante consultar o oftalmologista e recorrer à uma ótica de confiança antes de utilizar um óculos com filtros especiais. Conheça as principais cores e suas indicações:

LENTES DE COR VERDE: Filtram as radiações ultravioleta e infravermelha. Baixa transmissão de calor. INDICADAS para uso geral. Podem ser de várias tonalidades.

LENTES DE COR CINZA ESVERDEADO: Filtram as radiações ultravioleta e infravermelha. São fiéis a cor dos objetos. INDICADAS para a perfeita discriminação das cores.

LENTES DE COR MARROM/ÂMBAR: Alta transmissão das cores laranja e amarelo e absorção do azul e do violeta. Melhoram a visão em nevoeiros. INDICADAS para o ar livre.

LENTES DE COR ROSA: Filtram a radiação ultravioleta e transmitem o infravermelho de pouca intensidade. INDICADA para ambientes iluminados por lâmpadas fluorescentes e para o uso de computador.

LENTES DE COR AZUL:Alta transmissão das cores azul e violeta e absorção do laranja e do amarelo. As cores dos objetos são modificadas. INDICADAS para o ar livre e apra o uso de computador.

LENTES DE COR AMARELA: Absorvem totalmente o ultravioleta e transmitem o infravermelho. Os tons mais escuros absorvem também o azul e o violeta. Indicados para ambientes escuros e para a noite. Não são indicados para a luz do dia.

LENTES DE COR CINZA ESCURO: INDICADAS para ambientes abertos e muito iluminados.

 

Entre as lentes recomendadas para o uso durante o dia, as de cor âmbar (laranja-amarelo) são as preferidas pelos pacientes com Stargardt, e também as mais indicadas pelos médicos. Essas lentes criam maior contraste entre os objetos, assim dão a sensação de uma visão ligeiramente melhor. A tonalidade exata do âmbar deve ser testada e selecionada por cada paciente, observando-se sempre  a subjetividade da escolha.

O fato de as lentes âmbar estarem entre as preferidas para o óculos de sol não implica que todos irão desejá-las. Nem todas as pessoas com Stargardt se adaptarão às mesmas lentes. Como a doença não se manifesta igualmente em todos os indivíduos, é plausível que alguns pacientes não se sintam confortáveis com as lentes amareladas. A adaptação  (ou não) do paciente à lente relaciona-se às especificidades de sua perda visual, ou seja, ao quanto foi perdido de cones e bastonetes, as células receptoras de cor e luz respectivamente.

As lentes não precisam ser de uma marca específica, no entanto mostra-se oportuno mencionar a linha Medicinal da fabricante Zeiss. Essa linha possui mais de dez opções de filtros, tendo cada filtro uma tonalidade de lente. Os filtros mais recomendados para pessoas com degeneração macular são: o F-60, F-90, F540 e F-580. Como cada lente filtra uma determinada faixa do espectro de luz, o paciente pode sentir-se confortável com um filtro mais escuro na exposição direta ao sol, ou preferir uma lente mais clara para ambientes internos, como a Zeiss explica em seu sítio eletrônico:

“As lentes com filtros especiais para aplicações médicas absorvem completamente parte do espectro visível. Receptores nos olhos com sensibilidade a essa região são deliberadamente “subexpostos”. O contraste entre os receptores sujeitos a níveis de exposição máximo e mínimo aumenta. Estudos demonstraram que, em algumas doenças da retina, lentes com filtros especiais muitas vezes melhoram o contraste e reduzem o tempo necessário para a adaptação a diferentes condições de iluminação.”

A Zeiss é uma empresa alemã, fundada em 1846, pelo inventor Carl Zeis. A empresa produz desde lentes para óculos, até lentes para microscópios e telescópios, como o telescópio Hubble.

O filtro Medicinal da Zeiss só pode ser aplicado à lentes dessa fabricante, por isso seu valor é um pouco elevado, custando por volta de R$1.000,00, a lente e o filtro sem a armação dos óculos. A lente Zeiss pode ser encontrada em óticas especializadas.

A utilização dessas lentes coloridas e os benefícios por elas proporcionados variam de paciente para paciente, por isso a relevância dos depoimentos dos usuários. O relato pessoal oferece tanto expertise quanto conhecimento tácito, adquiridos cotidianamente.

 

DEPOIMENTOS

Marina Leite Brandão, 25 anos
Acuidade visual de 20/400 em ambos os olhos.
 
“No meu dia-a-dia utilizo três óculos distintos. Uso um óculos escuro “tradicional”, de lente mais acinzentada e com filtro anti-UV, para dias muito iluminados, quando há pouca ou nenhuma nuvem no céu. Para dias nublados, ou pelo amanhecer e entardecer, quando a luminosidade é menor utilizo o filtro F-60 da Zeiss. Para ambientes internos, iluminados com lampadas brancas e, principalmente para ver televisão e monitores em geral, uso o filtro F-540 da Zeiss.

 

Sinto-me muito confortável com os filtros da Zeiss. Ao colocá-los pela primeira vez percebi um descanso imediato nos olhos. Uma experiência interessante com o óculos F-60, ocorreu quando passei uma tarde com duas amigas em uma praça. O dia estava nublado e ficamos aproximadamente quatro horas conversando, quando começou a escurecer, mas ainda havia claridade, eu resolvi retirar os óculos (pois eles já estavam escuros demais para aquela luminosidade) e no momento que os tirei dos olhos, assustei-me, pois senti um desconforto imenso, como se duas agulhas estivessem sendo enfiadas em meus olhos. Então, lembrei-me do bem-estar que as lentes me proporcionam, com os óculos (F-60 e F-540) fico com os olhos relaxados e até esqueço-me da hipersensibilidade à luz. Outro fato interessante que os óculos F-60 criam é a percepção de determinados detalhes. Quando estou com os óculos consigo ver com maior nitidez algumas flores, folhas, objetos na calçada e o sinal de trânsito, também consigo identificar veículos em movimento com maior antecedência. Em relação à lente F-540, o mais agradável é o descanso ao ver televisão e utilizar o computador, mas além disso ela aumenta o contraste, tornando os contornos das imagens mais evidentes.

 

 

Descrição da imagem: no topo está o óculos com filtro F-60 e em baixo um gráfico mostrando que a lente filtra quase a totalidade do espectro de luz de cor violeta e azul, reduzindo o nível de filtragem gradativamente nos espectros verde e amarelo. A lente F-60 filtra mais o amarelo  do que a lente F-540. As cores laranja e vermelha são menos filtradas do que as demais, mas ainda são mais bloqueadas na F-60 do que na F-540.

 

Descrição da imagem: no topo está o óculos com filtro F-540 e em baixo um gráfico mostrando que a lente filtra quase a totalidade do espectro de luz de cor violeta, reduzindo a filtragem gradativamente a partir da cor azul até a cor amarela, passando pelo verde. Os espectros de cores amarela, laranja e vermelha têm filtragem pequena.

É evidente que a solução não está nos óculos. Mas só de melhorar um pouco oferecer conforto, já fico extremamente feliz.”
Pessoas com Stargardt sempre estão a procura de mecanismos para reduzirem seu desconforto e melhorarem sua capacidade visual. As lentes com filtros, ou em cor âmbar, estão longe de representarem a solução perfeita para os “stargardtianos”. Elas oferecem, contudo, tranquilidade, e ao permitirem a observação de um simples detalhe, configuram como indispensáveis na vida de alguns pacientes.

Oscar Matheus Nogueira Mineiro, 32 anos
Acuidade visual de 20/400 em ambos os olhos.

Meu nome é Oscar Matheus Nogueira Mineiro, tenho 32 anos, fui diagnosticado com a doença de Stargardt aos 10 anos de idade.
Desde criança sempre tive fotofobia. Todos os oftalmologistas que consultei, e também aqueles que me acompanham até hoje, sempre me disseram que essa aversão à luz é uma das características da doença de Stargardt. Quando senti a necessidade de usar óculos de grau, em razão da miopia e do astigmatismo que também possuo, meu oftalmologista de confiança, com o propósito de amenizar minha aversão à luz, receitou o uso de óculos com as lentes Transitions. Usei esses óculos durante anos, contudo, mesmo com as lentes Transitions, ainda sentia um grande desconforto com a luz. Na realidade, nunca senti um considerável benefício ao usar as lentes Transitions.
Há dois anos, em consulta com uma oftalmologista que conheço desde criança, com a principal finalidade de conhecer novos auxílios ópticos, queixei-me novamente sobre a fotofobia, e mais, sobre a dificuldade que passei a sentir ao andar pelas ruas durante a noite. Assim, essa oftalmologista me apresentou as lentes filtrantes Clarlet, produzidas pela empresa alemã Zeiss. No consultório dela experimentei diversas tonalidades das lentes filtrantes Clarlet, sendo que escolhi a lente F-60, para usar em dias mais claros, e as lentes F-540, para usar em dias mais escuros, nublados, em ambientes internos, como, por exemplo, em um shopping center, ou até mesmo em caminhadas durante a noite. As lentes filtrantes F-540 são semelhantes às lentes chamadas night drive.
De fato, considero as lentes filtrantes Clarlet uma excelente aquisição, pois trazem um imenso conforto aos meus olhos. Nunca me acostumei em usar óculos escuros normais, mas me sinto hoje totalmente adaptado em usar as lentes filtrantes Clarlet.
Uma situação curiosa em que já me peguei usando as lentes Clarlet foi quando eu estava em um carro trafegando em uma estrada muito escura, mas muito movimentada. Sem os óculos, as luzes dos veículos que vinham em sentido oposto pareciam chamas, impossível de se olhar diretamente, no entanto, ao colocar meus óculos com as lentes Clarlet, pude olhar diretamente aos veículos que não senti qualquer incômodo.
Sobre tudo o que exponho neste depoimento, acho muito importante fazer algumas considerações: as lentes filtrantes Clarlet não “corrigem” a doença de Stargardt, isto é, mesmo com os óculos minha acuidade visual continua sendo de 20/400, elas funcionam apenas como um auxílio óptico; em conversa com diversos oftalmologistas fui informado que nem todas as pessoas com Stargardt se adaptam com as lentes filtrantes Clarlet, por isso considero de grande importância a consulta prévia a um oftalmologista especializado antes de comprá-las; independentemente das lentes escolhidas, para nós que temos fotofobia, é de grande importância que a armação dos óculos também sejam boas o suficiente para impedir o máximo possível a passagem de luz, por cima, por baixo ou pelos lados das lentes; como qualquer auxílio óptico, muitas pessoas podem se adaptar às lentes filtrantes Clarlet e outras podem se adaptar às lentes de outras marcas.

Para saber mais, visite o endereço eletrônico da Zeiss em:
http://www.zeiss.com.br/vision-care/pt_br/products-service/lentes-com-revestimento-e-coloridas/lentes-solares-e-com-filtro/lentes-com-filtros-especiais.html

Texto por Marina Leite Brandão