Essas células estão sendo estudadas para ajudar no tratamento de doenças como diabetes, cegueira e câncer
O que são células-tronco?
Células-tronco são células que têm a capacidade de auto-renovação, ou seja, de dar origem a outras células-tronco iguais a ela, e que também têm o potencial para se tornarem outras células especializadas do nosso corpo quando recebem estímulos adequados.
Para entender melhor o conceito, é preciso levar em conta que o corpo humano é composto por um trilhão de células e algumas delas têm funções específicas. Um exemplo são os neurônios, células do sistema nervoso, que possuem atuação diferente das células que compõem os músculos. Dizemos que estas células com funções específicas são células diferenciadas
No entanto, existem as chamadas células-tronco que ainda não têm uma especificação definida no corpo e podem se transformar em outros tipos de célula. Esse potencial tem sido usado para criação de diferentes tipos de tratamentos.
Tipos de células-tronco
Nem toda célula-tronco pode virar qualquer tipo de célula diferenciada. Por isso, elas são classificadas de acordo com esse potencial. São três tipos:
- Totipotentes: são as células originais do embrião, que tem potencial para se tornarem tanto células do corpo, quanto para formarem tecidos extra-embrionários (como a placenta, por exemplo). São as células que dão origem ao embrião no início da gestação
- Pluripotentes: são células capazes de se tornar qualquer tecido do corpo, mas não formam estruturas extra-embrionárias. São encontradas apenas no embrião em fases iniciais de formação
- Multipotentes: são células-tronco adultas, que perdem o potencial de se tornar qualquer tipo de célula, mas ainda assim conseguem se diferenciar em uma gama ampla de células diferenciadas. Elas são encontradas em muitos tecidos do corpo.
Muitos tipos de células-tronco multipotentes continuam no organismo humano quando ele já está desenvolvido (ou seja, desde o nascimento, apesar de elas serem chamadas de adultas) enquanto as totipotentes e pluripotentes são encontradas apenas no embrião. Entre as multipotentes existem dois tipos mais conhecidos:
- Mesenquimais: são células-tronco capazes de se diferenciar em células de tecidos sólidos, como músculos, ossos, cartilagem e gordura. No entanto, dependendo do local de sua origem, elas se diferenciam em tipos de células distintas
- Hematopoiéticas: são células-tronco presentes no sangue e na medula óssea, que são capazes apenas de se diferenciar em células sanguíneas (hemácias, glóbulos brancos, etc…).
Além disso, os cientistas hoje conseguem transformar células já diferenciadas em células pluripotentes, que possuem potencial para se transformar em qualquer tipo de célula (exceto tecidos extra-embrionários) – são as chamadas células-tronco pluripotentes induzidas. Este processo é chamado de reprogramação celular.
Usos das células-tronco
As células-tronco são usadas atualmente em terapias celulares e também para criação de modelos de pesquisa, para entendimento de doenças e desenvolvimento de medicamentos. Veja a seguir alguns usos aprovados e em desenvolvimento das células-tronco.
Lipoenxertia sem reabsorção: Em alguns países os procedimentos plásticos de lipoenxertia (em que a gordura do corpo é enxertada em outras regiões) tem a gordura enriquecida com células-tronco. Isso impede que ocorra a reabsorção desse tecido adiposo, processo que ocorre devido a um entendimento do organismo de que aquela gordura está “fora do lugar” e precisa ser realocada. As células-tronco reduzem em até 90% as chances de reabsorção.
Reconstrução óssea em fissura labiopalatina: Cientistas do Hospital Sírio-Libanês (em São Paulo), em parceria com o Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, têm conduzido uma pesquisa em que usam células-tronco do dente de leite para reconstrução óssea em crianças com fissura labiopalatina (conhecida popularmente como lábio leporino). Quando a fissura compromete o osso na região alveolar e/ou palato (céu da boca), normalmente é preciso fazer um enxerto com o osso do quadril, o que causa dores no pós-operatório. No entanto, a pesquisa usa as células-tronco para estimular a renovação do osso no local. Além disso, eles estimulam essas células com aplicações de laser, o que torna o processo ainda mais rápido.
Entendimento dos transtornos do espectro autista: Pesquisas brasileiras também estudam os transtornos do espectro autista com o auxílio das células-tronco. Nesse caso, o intuito não é utilizá-las para tratamento em si, mas ajudar os especialistas a entenderem melhor como funcionam os neurônios dos autistas. Para tanto, eles fazem a reprogramação celular de células da polpa de dente ou células do sangue de pessoas com autismo, transformando-as novamente em células pluripotentes (células pluripotentes induzidas). Depois, essas células são induzidas a se tornarem neurônios. Com isso, é possível reproduzir exatamente como são os neurônios de crianças com e sem autismo. O próximo passo e usar esses modelos para testar novas drogas.
Tratamento do diabetes tipo 1: Pesquisadores norte-americanos estão testando como usar as células-tronco para ajudarem o pâncreas a recuperar sua função de produzir insulina, habilidade perdida por pessoas com diabetes tipo 1. Para tanto, eles estão injetando células-tronco em cápsulas que são colocadas no pâncreas e desempenham as funções das células-beta desse órgão sem serem atacadas pelo sistema imunológico. Os testes já foram realizados com sucesso em camundongos e agora está sendo testado em humanos.
Tratamento da degeneração macular: Estudos recentes conduzidos nos Estados Unidos têm tratado pacientes que haviam perdido a visão com a degeneração macular ou doença de Stargardt. Nele, os cientistas diferenciaram células-tronco em células do epitélio pigmentar da retina e as aplicaram nos pacientes, que apresentaram melhoras significativas, mesmo em casos mais avançados. Atualmente esse tratamento já se mostrou seguro e está em testes com grupos maiores de pacientes.
Tratamento do câncer: Alguns estudos no Reino Unido têm buscado formas de transformar as células-tronco em potenciais destruidoras de tumores de câncer. Para tanto, cientistas ativam o gene TRAIL nessas células, o que as torna semelhantes às células imunes. Essas células acabam sendo atraídas pelos tumores e fazem com que as células tumorais “se suicidem”. Por enquanto essa terapia só foi estudada em ratos, mas conseguiu curar alguns deles completamente do câncer de pulmão.
Criação de órgãos para transplante: Muitos cientistas estudam como criar órgãos inteiros, direcionando células-tronco para se diferenciarem formando tecidos para órgãos específicos. Se forem usadas células do próprio paciente, não há risco de rejeição deste novo órgão. No entanto, o desafio dessa linha de pesquisa é fazer com que as células se diferenciem para os diferentes tecidos que podem compor um mesmo órgão, já que eles são estruturas complexas.
Onde as células-tronco são encontradas
As células-tronco embrionárias (totipotentes e pluripotentes) são encontradas apenas em embriões e muitas vezes podem ser retiradas de embriões descartados em processos de fertilização in vitro (processo que já causou polêmicas e discussões, já que não está estabelecido se esses embriões estão vivos).
Já as células-tronco multipotentes podem ser retiradas de diversos tecidos do corpo. Veja as regiões mais comuns para cada subtipo dessas células:
- Células mesenquimais podem ser retiradas do dente de leite, da parede do cordão umbilical ou tecido adiposo
- Células hematopoiéticas normalmente são retiradas da medula óssea ou do sangue do cordão umbilical.
Como as células-tronco são armazenadas
Com tantas terapias em desenvolvimento, muitas pessoas têm armazenado células-tronco, para conservar o recurso no futuro. De modo geral, esse armazenamento é feito através do congelamento. As células são coletadas de sua região de origem (a coleta muda conforme a origem da célula) e levadas ao laboratório em um meio de cultura próprio, que impede que elas sejam contaminadas por bactérias. No laboratório as células-tronco são separadas, multiplicadas e então armazenadas em tanques com nitrogênio líquido à – 196 °C.
Veja a seguir como é feita a coleta de cada tipo de célula-tronco:
Uma outra forma é a retirada pela veia, em que o doador toma um remédio durante cinco dias, que aumenta a produção de células-tronco. No sexto dia, o sangue é filtrado por uma máquina, que isola as células-tronco. O processo dura de quatro a seis horas e o remédio pode causar como efeito colateral algumas dores no corpo.
Células do tecido adiposo
Quem pode se aproveitar das terapias com célula-tronco?
Quando uma célula-tronco é armazenada, é com o intuito de usá-la futuramente em alguém. Mas as pessoas que podem se beneficiar dessas células variam conforme o tipo de célula:
Células-tronco mesenquimais
Células-tronco hematopoiéticas
Fontes consultadas
Odontologista Daniela Bueno, pós-doutora em Genética Humana e Células-tronco no Instituto de Biociencias da Universidade de São Paulo (IB-USP) e na University of California Los Angeles (UCLA) e pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês
Bióloga Karina Griesi Oliveira, doutora em Genética pela Universidade de São Paulo e pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein
Cientista Ana Maria Teixeira, mestre em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Biotecnologia pela Northeastern University
Bióloga Mariane Secco, doutora em Genética pelo Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo
Fonte: Site Minha vida.
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